AS MULHERES NA IGREJA
1 Timóteo 2:8-15
8 Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.
9 Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos,
10 Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.
11 A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.
12 Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.
13 Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.
14 E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.
15 Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação.
8 Quero,A parte desta passagem trata a respeito do lugar das mulheres na Igreja. Esta passagem não se pode ler fora de seu contexto histórico. Surge inteiramente da situação na qual foi escrito. Está escrito sobre o pano de fundo de duas circunstâncias que a antecedem.
Primeiro: Está escrito sobre um pano de fundo judeu. Para os olhos judeus, as mulheres oficialmente tinham uma posição muito baixa. É certo que nenhuma nação dava à mulher um lugar tão grande como o judeu no lar e nos assuntos familiares. Mas oficialmente a posição da mulher era muito baixa. Na lei judia a mulher não era uma pessoa; era uma coisa. Estava inteiramente à disposição de seu marido ou de seu pai. Era-lhe proibido aprender a Lei; instruir a uma mulher na Lei era como jogar pérolas aos porcos. As mulheres não tinham parte no serviço da sinagoga; estavam separadas, não podiam ser vistas, e não se lhes permitia participar do serviço. O homem ia à sinagoga para aprender; mas a mulher, no máximo, ia escutar. Na sinagoga a leitura das Escrituras era realizada por membros da congregação; mas não por mulheres, porque isso teria sido diminuir "a honra da congregação". À mulher estava absolutamente proibido ensinar numa escola; não podia nem sequer ensinar os meninos menores. A mulher estava excetuada das demandas estabelecidas da Lei. Não lhe era obrigatório assistir às festividades e festivais sagrados. Eram classificados juntos às mulheres, os escravos e os meninos. Na oração matinal judaica o homem agradecia a Deus por não tê-lo feito "um gentio, um escravo ou uma mulher".
Nos Afirmações dos Pais se citam estas palavras do rabino José Ben Johanan: "Sua casa esteja totalmente aberto, e deixem que os pobres sejam sua família, e falem pouco com uma mulher." Disse-o referindo-se à sua própria mulher, e mais ainda no caso da mulher de um companheiro. Porque os sábios disseram: "Todo aquele que fala muito com uma mulher se causa mal a si mesmo, e desiste das tarefas da Lei, e seu fim é que herda o Geena."
Um rabino estrito nunca saudava uma mulher na rua, nem sequer a sua própria mulher nem a sua filha, nem a sua mãe, nem a sua irmã. Dizia-se a respeito das mulheres: "Sua tarefa é a de enviar aos meninos à sinagoga; atender os assuntos domésticos; deixar a seu marido livre para que estude nas escolas; manter sua casa até que ele volte." Devemos lembrar que a Igreja surgiu num meio judeu como este.
Segundo: Está escrito sobre um pano de fundo grego. Estes antecedentes faziam que as coisas fossem duplamente dificultosas. O lugar das mulheres dentro da religião grega era baixo. O templo de Afrodite em Corinto tinha mil sacerdotisas que eram prostitutas sagradas e que todas as noites ofereciam sua mercadoria nas ruas da cidade. O templo de Diana em Éfeso tinha cem sacerdotisas chamadas Melissae, que significa as abelhas, e cuja função era a mesma.
A mulher grega respeitável levava uma vida de fechamento. Vivia em suas próprias habitações nas que ninguém podia entrar salvo seu marido. Nem sequer estava presente nas refeições. Nunca aparecia sozinha na rua; nunca ia a uma assembléia pública, e menos ainda falava ou tomava parte ativa em tais assembléias. O fato é que se numa cidade grega as mulheres cristãs tivessem tomado parte ativa, falado e ensinado na tarefa da Igreja cristã, a Igreja inevitavelmente houvesse ganho a reputação de ser o ponto de reunião de mulheres perdidas e imorais. O certo é que em nenhuma sociedade grega se poderiam ter estabelecido outras normas como estas.
O que é pior, na sociedade grega havia mulheres cuja vida consistia em elaborar adornos e galões para o cabelo. Em Roma, Plínio nos conta a respeito de uma noiva, Lolia Paulina, cujo vestido de bodas custou o equivalente a cem mil dólares. Até os gregos e os próprios romanos estavam surpreendidos pelo amor ao vestido, ao desdobramento e aos adornos que caracterizava a algumas de suas mulheres. As grandes religiões gregas eram chamadas religiões de Mistérios, e tinham precisamente as mesmas normas a respeito do vestido. Há uma inscrição que diz o seguinte: "Uma mulher consagrada não levará ornamentos de ouro, nem cabelo trancado, nem rouge, nem branqueará o rosto, nem usará vinchas, nem sapatos, exceto aqueles feitos de feltro ou dos couros dos animais sacrificados."
A Igreja cristã não estabeleceu estas normas para que fossem permanentes, mas sim como coisas que eram necessárias na situação na que se encontrava a Igreja primitiva.
Em todo caso, a situação tem outro aspecto. Bem pode ser que na velha história seja a mulher a que foi criada em segundo lugar, e foi ela a que caiu perante a sedução da serpente que era o tentador; mas foi Maria de Nazaré a que deu a luz e educou o menino Jesus; foi Maria de Magdala a primeira em ver o Senhor Ressuscitado; foram quatro mulheres as que, de todos os discípulos, estiveram ao lado da cruz. Priscila com seu marido Áqüila era uma mestra apreciada na Igreja primitiva, uma mestra que guiou a Apolo no conhecimento da verdade (Atos 18:26). Evódia e Síntique, apesar de sua desavença, eram mulheres que trabalhavam no evangelho (Filipenses 4:2-3). Filipe, o evangelista, tinha quatro filhas que eram profetisas (Atos 21: 9). As mulheres anciãs podiam ensinar (Tito 2:3). Paulo considerava com alta honra a Lóide e Eunice (2 Timóteo 1:5), e muitos nomes de mulheres são mencionados com alta estima em Romanos 16.
Todas as coisas das que se fala neste capítulo são simples normas transitivas estabelecidas para enfrentar uma situação dada. Se queremos conhecer a perspectiva real e permanente de Paulo sobre este assunto, temo-la em Gálatas 3:28:
"28 Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus."
Em Cristo se apagam as diferenças de lugar, honra, prestígio e função dentro da Igreja.
E entretanto, esta passagem finaliza com uma grande verdade. As mulheres, diz, se salvarão gerando filhos. Há dois significados possíveis nisto. Seria levemente possível que esta fosse uma referência ao fato de que Maria, uma mulher, foi a mãe de Jesus. Pode ser que signifique que as mulheres serão salvas — como todos o serão — pelo ato supremo de gerar filhos pelo qual o Filho de Deus nasceu no mundo. Mas é muito mais provável que o significado desta passagem seja mais simples; e que signifique que as mulheres encontrarão a vida e a salvação, não indo a reuniões, nem falando perante elas, mas na maternidade, que é sua coroa. Seja como for, a mulher é rainha dentro de seu lar.
Não devemos ler esta passagem como uma barreira à tarefa e serviço da mulher dentro da Igreja; devemos fazê-lo à luz de seu pano de fundo judeu e da situação numa cidade grega. E devemos buscar o pensamento permanente de Paulo na passagem que nos diz que se apagaram as diferenças, e que os homens e as mulheres, os escravos e os homens livres, os judeus e os gentios, todos são aptos para servir a Cristo.
Fonte de Pesquisas: O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay.
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